sábado, 16 de abril de 2011

"No woman no cry "

Não gosto muito de blogues... sinto que escrevemos para os outros e na verdade parece-me que sou condicionada, porque afinal de contas não vou dizer tudo aquilo que me apetecer em "praça pública", mas hoje quero e vou escrever para mim, com a máxima simplicidade que me for possível, com toda a sinceridade, com toda a naturalidade, apenas para tentar estruturar algumas ideias.

Aqui há dias fomos a tua casa, fomos com a senhora loira, porque ela tem a chave de tua casa e a tua mãe estava em Vila Real e tu tinhas de te ir preparar, uma vez que íamos jantar fora. Estás situada?
Já não ia a tua casa desde o dia 31 de Outubro e nessa altura a tua casa ainda cheirava a felicidade por todos os cantos... Eu que passei tanto tempo lá, confesso que agora, quando lá voltei a entrar, tive a sensação de que era a primeira vez, tive eu e tu apercebeste-te, porque se bem me lembro perguntaste-me:
- Já não conheces a casa?
A verdade é que não te sei responder a essa pergunta. Entrei e o senhor vazio veio abraçar-me. Enfiei-me de imediato na casa-de-banho e desatei a chorar... Antes o cheiro da tua casa transformava-se no cheiro da minha casa e agora? Agora juro que parece que está prestes a sofrer uma derrocada. Tu não mostras isso. Não mostras nem nunca vais mostrar ... Repara se até um pedaço de mim se foi, como é que TU podes permanecer intacta?
Não sei como aguentas... não sei... essa força, essa força imensa que tu tens é proveniente de algo que tu conheces muito bem e escusado será eu falar. Lembras-te, lembras-te no primeiro dia? Eu disse-te: tu vais sentir, vais sentir a tua vida toda. Vais ter muitos sinais. 
E essa é uma verdade, a toda a hora nos deparamos com uma  carteira desaparecida, com uma camisola, com uma mala de viagem... mas tudo aparece...
ACREDITA! Há coisas que ninguém sabe como explicar, mas não precisamos que tudo seja concreto, aliás o abstracto surte bem mais interesse.

Depois ligaste o telemóvel às colunas e o que começamos por ouvir?
- Bob Marley. Tal e qual como naqueles maravilhosos dias de Verão em que dormíamos às semanas uma em casa da outra, em que nos arranjávamos horas a fio para irmos aos carrinhos de choque, em que nos sentávamos no meio da estrada a ver o fogo de artificio, em que ensinávamos a tua prima a brincar como uma mulher (Carlota, fazer sexo é saltares numa cama com o Dante...) e ela coitadinha encolhia-se, escondia a cara atrás dos seus cabelos loiros e corava, era também altura em que íamos beber sumo de laranja para uma esplanada qualquer, em que comíamos todas as miniaturas que existiam em qualquer pastelaria e depois íamos ver Morangos com Açúcar, como se gostássemos muito daquilo e comíamos batatas fritas de presunto... as nossas favoritas... e ao fim do dia íamos jantar os manjares que os nossos país nos preparavam, em tua casa ou na minha... e cheirava tão bem esse tempo!

Porque não sou capaz de falar mais do assunto, recuso-me a acabar... assim como não quero que este mimetismo algum dia desapareça. Deixa-me sentir, CONTIGO. 
Seja muito bom. Seja menos...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Põe um modo compatível com a minha condição

Estuporado, entalado, inquinado...
Tenho vontade de te esmagar, de morder, de te espatifar essa cara, patife!


 Timidez!

Detesto tarefas domésticas! Detesto mesmo! Limpar o pó dá-me tonturas. Aspirar o chão põe-me nervosa. Lavar a loiça dá-me comichão nas mãos e nos pés. É verdade! É verdade: sou alérgica. Se fizer alguma tarefa posso ficar muito doente, muito irritada...
Não era melhor estar a calcular a minha dependência? A minha rude e estúpida dependência por ti... seu estuporado, entalado, inquinado...

Essa ousadia dá-me vómitos:
- Estou com sono. Vou dormir. Espera um bocado. Quando acordar já falamos. Pita. Cresce!
E dizes isto de maneira tão subtil, que se torna impossível aceitar? Percebes? Essa tua naturalidade irrita-me.
- És feia. A outra era bem melhor!
Eu olho para ti, encolho os ombros e tenho vontade de te esmagar.
Essa ousadia dá-me vontade de te esmagar.

A tua pouca sensibilidade irrita-me:
Atendes o telemóvel a toda a hora quando estás comigo e não deixas nunca que eu o faça.
A tua pouca sensibilidade dá-me vontade de te morder.

Confesso. Confesso-to:
A toda a hora tenho vontade de te esmagar, de morder, de te espatifar essa cara, patife! De te esmagar de beijinhos, de te morder as bochechas, de te espatifar essa cara, no sentido integral.
De te espatifar a cara porque a tua ousadia, a tua naturalidade, a tua pouca sensibilidade entranharam-se na minha pele e de forma nenhuma, estão dispostas a sair. 
Não sou alérgica. Não. Ao contrário do que acontece nas tarefas domésticas... 
Há algumas semelhanças, há:
- dás-me tonturas
- pões-me nervosa
Deixas-me senil (e senil é o meu avô).
Deixas-me com tonturas, porque te olho debaixo e porque tens a lata de perguntar:
-Medes quanto? Um metro e meio?
Pões-me nervosa, porque me fazes frente, me mostras como realmente as coisas são e digo-te que assumir que não tenho razão me deixa no auge do nervosismo.
Deixas-me senil, em estado completamente decrépito, ironicamente frágil, porque não sabia ser possível idolatrar alguém, eu que nem deuses idolatro, como posso venerar-te?

Sabes a que tudo isto me soa?
A um imenso paradoxo, porque eu detesto-te pelo facto de não saber viver sem... sem ti. PATIFE!

"Um bem haja à lamechisse!"